Talvez minha estupidez tenha sido montar aquela caixa, tenha sido depositar nela meus discos para escutar os seus, embora adorasse suas músicas, as minhas me traziam um sentimento de entrega, me faziam abrir um vinho e apagar as luzes.
Talvez tenha errado em ter depositado naquela caixa meus braços, numa perspectiva de estarem sempre abertos. Quantas vezes precisei fechá-los na esperança de encontrar em seu um conforto, um tantinho de paz. Nunca encontrei.
Minha estupidez maior foi ter pensado que o amor sobreviveria a solidão a dois, percebi que não, ele acabou, padeceu. Como se não bastasse, fui mais estupido ainda quando alimentei meu coração com essa certeza de amar por dois. Hoje imbuído dela, tudo é fome, apesar de saber que será apenas enquanto for semente. Em breve uma nova colheita me permitirá quebrar a caixa, por enquanto, vou me contentando com a imagem das mudas verdes, que aos poucos tomam tudo que se faz cinza em meu peito.